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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Artigo de Reflexão: "Portugal desperdiça a experiência, Inglaterra e Itália aproveitam-na"

Futebol

Tema: "Portugal desperdiça a experiência, Inglaterra e Itália aproveitam-na"


Artigo publicado no jornal Público 16 Setembro 2012

Autor: Manuel Mendes

 
A Juventus recuperou na época passada, após nove anos de jejum, o título com um plantel com uma média de idade superior a 28 anos. Uma das suas estrelas, Del Piero, aproveitou o momento para se despedir. Tinha 37 anos. Mas prometeu que não iria parar. Del Piero não é o único veterano no futebol italiano. O lateral argentino Zanetti, aos 39 anos, mantém o seu lugar numa formação recentemente vencedora da Liga dos Campeões. Mas há muitos outros casos. Portugal, porém, tem dificuldades em seguir esta aposta. Exemplo disso é João Tomás. Apesar de manter o instinto goleador aos 37 anos (na época passada fez 11 golos pelo Rio Ave), é considerado, por muitos, como incapaz de render o suficiente numa equipa de topo.


Excessos cometidos pelos atletas ao longo da carreira, mas, sobretudo, a própria cultura portuguesa são responsáveis pela reduzida aposta em jogadores mais veteranos e pelo desperdício da experiência, referem os especialistas contactados pelo PÚBLICO.

João Tomás diz que sempre trabalhou de forma exemplar e dá conselhos aos mais jovens no sentido de prolongarem as carreiras. Ficou algo aborrecido quando não foi chamado por Paulo Bento à selecção. Mas compreende. "É uma questão cultural que persistimos em manter. O bilhete de identidade prejudica muito o final de carreira dos jogadores, que acabam quando ainda tinham muito para dar", sublinha.

João Tomás é um dos raros casos de longevidade no futebol nacional

João Tomás não estranha os exemplos contrários que chegam de outros países. Como de Inglaterra, onde Lampard, apesar dos seus 34 anos, é estrela no Chelsea e Paul Scholes (37 anos) e Ryan Giggs (38 anos) figuram entre as escolhas de Alex Ferguson no poderoso Manchester United.

Espanha também mantém muitos veteranos a jogar no topo, como Puyol, aos 34 anos, na defesa do Barcelona, ou Valeron, de 37 anos, que é aposta para o meio-campo do Zaragoça ou ainda Juanfran, que conta 37 anos e mantém ligação ao Atlético de Madrid. "Nestes casos é muito importante a confiança que nos é transmitida pelos dirigentes e treinadores. Felizmente tive o Carlos Brito que só olhava para aquilo que fazemos em campo", diz João Tomás.


"Os jogadores sentem muito isso. Para o sucesso ou insucessso", confirma Jorge Silvério especialista em psicologia desportiva. "A verdade é que ao contrário de outras culturas, em Portugal a idade significa velhice, enquanto noutras é conhecida como experiência, o que no caso do futebol não deixa de ser importante no balneário", resume.

A idade vai retirando qualidades físicas aos atletas. Mas ao mesmo tempo oferece-lhes outras vantagens. "Perdemos velocidade e reflexos, a recuperação é mais demorada. Mas como contrapartida, ganhamos uma forte experiência no posicionamento, na previsão da reacção dos adversários e as jogadas já surgem sem necessitar de recorrer à memória. A concentração também aumenta", continua o goleador João Tomás.

O fisiologista de esforço da Universidade do Porto, José Soares, confirma que a experiência compensa determinado desgaste e que o importante é ter atenção a certos aspectos, como a recuperação. "A idade deixa o jogador mais exposto a lesões e a uma recuperação mais lenta. O treino tem de ser diferente. Precisam de um planeamento caso a caso, de menor intensidade e não abusar do trabalho ostro-articular", defende.

Mas para se competir ao mais alto nível a partir dos 30 anos é preciso ter uma preparação rigorosa, não no momento, mas ao longo de toda a carreira. E poucas lesões. "Como digo aos mais jovens, o corpo é o nosso instrumento de trabalho e a noite foi feita para dormir. Os excessos pagam-se. Mas agora parece-me que na formação já se trabalha mais a consciencialização dos mais jovens", continua o futebolista da equipa de Vila do Conde.

O treino invisível é, de facto, muito importante, garante o médico de uma equipa de topo nacional e que pediu para não ser identificado. "Tem de se ter atenção ao peso e trabalhar as articulações. A alimentação também ganha uma importância fundamental. Os italianos, por exemplo, consomem de forma natural pouca gordura e muitos hidratos de carbono. É necessário repor o glicogénio", conta, adiantando que agora os clubes já estão a trabalhar os jovens neste sentido e que no futuro, mesmo em Portugal, a carreira de futebolista será prolongada.

Se os grandes da Europa não sentem problemas em ter veteranos nos seus plantéis, o mesmo não se pode dizer dos principais emblemas que lutam pelo título nacional. O FC Porto só tem dois jogadores com 30 anos ou mais. Um deles é o guarda-redes Helton (34). O Benfica conta com quatro futebolistas nessa situação e o Sp. Braga quatro, sendo que o mais velho é Quim (36 anos). O Sporting só tem Pranjic e Boulahrouz, ambos com 30 anos. O FC Porto é mesmo um dos plantéis mais jovens dos campeonatos europeus, com uma média de 23,52 anos, contra 24,1 dos homens de Alvalade e 25,8 da formação da Luz. Dos quatro candidatos ao título português o Sp. Braga é o plantel mais envelhecido, com uma média de 26,72 anos. Ainda assim, distante daquela que é a mais envelhecida das equipas dos quatros campeonatos analisados. O Queens Park Rangers apostou em veteranos e a média de idades do grupo é superior a 29 anos.


JOGADORES MAIS VELHOS

Portugal
João Tomás 37 ponta-de-lança Rio Ave
Ricardo Silva 36 defesa central Setúbal
Quim 36 guarda-redes Braga
Ricardo 36 guarda-redes Setúbal
Bruno Veríssimo guarda-redes Olhanense
Jogadores com 30 anos ou mais: 59
Jogadores com 34 anos ou mais: 13
Média de jogadores trintões por equipa: 3,6

Espanha
Palop 38 guarda-redes Sevilha
Movilla 37 médio Saragoça
José Luís Martí Soler 37 médio Maiorca
Juan Carlos Valerón 37 médio D. Coruña
Sergio Ballesteros 37 defesa Levante
Jogadores com 30 anos ou mais: 88
Jogadores com 34 anos ou mais: 15
Média de jogadores trintões Jogadores com 30 anos ou mais: 4,4

Itália
Javier Zanetti 39 anos Lateral Inter
Nicola Pavarini 38 guarda-redes Parma
Lorenzo Squizzi 38 guarda-redes Chievo
Luca Castellazzi 37 guarda-redes Inter
Roberto Colombo 37 guarda-redes Napoles
Jogadores com 30 anos ou mais: 124
Jogadores com 34 anos ou mais: 33
Média de jogadores trintões por equipa: 6,2

Inglaterra
Brad Friedel 41 guarda-redes Tottenham
Mike Pollitt 40 guarda-redes Wigan
Mark Schwarzer 39 guarda-redes Fulham
Carlo Cudicini 39 guarda-redes Tottenham
Carlo Nash 39 guarda-resdes Stoke City
Ryan Giggs 38 Médio Manchester United
Jogadores com 30 anos ou mais: 121
Jogadores com 34 anos ou mais: 25
Média de jogadores trintões por equipa: 6,05