Futebol & Economia
Tema: "O Futebol educa?"
Artigo publicado a 10 Outubro 2012
Autor: Vítor da Conceição Gonçalves
O FMI publicou ontem o World Economic Outlook e as perspectivas para 2013 na Europa e especialmente em Portugal não são boas. Também já se esperava.
Mas a semana passada a FIFA divulgou o ranking mundial dos países baseado no desempenho internacional das suas equipas de futebol. A boa notícia: Portugal passou para terceiro lugar estando à sua frente apenas a Espanha e a Alemanha. Nos lugares seguintes estão mais de cento e oitenta países. Existem outros rankings como o da UEFA. Mas independentemente do âmbito geográfico e das especificidades de cada um deles, a verdade é que em todos, a posição relativa de Portugal é muito boa. E isto acontece desde há anos.
Se tivermos presente os rankings da competitividade dos países e regiões, o posicionamento de Portugal infelizmente não é semelhante. Por exemplo, no último relatório do World Economic Forum Portugal aparece na 49ª posição, utilizando mais de cem critérios (na qualidade das estradas estamos em quarto lugar). E ao longo dos últimos vinte anos, nos vários rankings da competitividade global, Portugal nunca teve um posicionamento entre os trinta primeiros países.
As organizações do futebol profissional formam um sector económico importante, globalizado, em crescimento, e onde Portugal tem uma posição muito destacada. Como é isto possível? Existem muitas razões. Algumas radicam em factores de gestão, outras em aspectos contextuais. Destaco alguns. O Estado tradicionalmente tem tido uma posição reguladora mas sem ter uma influência significativa na gestão das organizações/clubes. Tem actuado mais como apoiante e facilitador. Por outro lado, o contexto onde os clubes desenvolvem a sua actividade é caracterizado por uma elevada agressividade competitiva. Seja nas provas internas ou nas internacionais. A mentalidade prevalecente na actuação dos actores é de forte rivalidade.
A nível de gestão existem aspectos que muitas organizações desportivas têm desenvolvido extremamente bem. A focalização na actividade futebolística, tendo as outras um carácter acessório e de apoio. A ligação aos clientes/adeptos através da criação de factores de fidelização. A gestão da marca. A importância dada à formação profissional e ao treino para desenvolvimento de competências. A criação e gestão da cultura organizacional com o desenvolvimento de uma mística de clube/selecção. Uma gestão das pessoas onde se compatibiliza tradição, maturidade e juventude com perfis funcionais bem definidos. Uma política remuneratória com ligação aos resultados. E onde existe uma elevada flexibilidade laboral. As equipas com melhor desempenho conseguem gerir as suas vantagens competitivas de uma maneira sustentada.
No mundo empresarial temos também empresas que são muito bem geridas. Mas não temos nenhuma indústria com a importância económica do futebol onde estejamos em terceiro lugar. Necessitamos ter mais empresas e organizações públicas melhor geridas e que o Estado seja cada vez mais um apoiante. Já agora o nosso Estado podia copiar alguma coisa da realidade pública holandesa. São europeus, estão na zona euro, e também estão bem posicionados no futebol.
____
Vítor da Conceição Gonçalves, Professor Catedrático do ISEG Pró-Reitor da UTL