Desporto
Tema: "Sporting, Benfica e FC Porto espalham escolas de futebol em busca de craques"
Artigo publicado no jornal Público 13 Julho 2012
Autor: Manuel Mendes
Os três “grandes” de Portugal estão a alargar a sua rede de prospecção de talentos por todo o país, replicando o que de melhor se faz na casa-mãe. Uma estratégia que dá dinheiro, adeptos e, talvez, vedetas
Os três “grandes” clubes portugueses estão a apostar na criação de escolas de futebol por todo o país, tuteladas por cada um dos emblemas e em que não deixam nada ao acaso. Controlam instalações, equipamentos e métodos de trabalho. Os objectivos são simples: ampliar o campo de recrutamento de promissores talentos e angariar mais adeptos. No total, Sporting, Benfica e FC Porto movimentam já, nas suas 69 escolas, espalhadas de norte a sul, mais de 13.500 crianças, entre os cinco e os 14 anos. Mas só uma centena mostrou aptidões que podem vir a transformá-los em craques.
O antigo técnico das selecções jovens Joaquim Agostinho não têm dúvidas de que este projecto "embrionário" irá dar frutos no futuro, não só para os clubes que aumentam consideravelmente o seu campo de recrutamento, mas também para as selecções nacionais. "É um projecto ambicioso, que de alguma forma vem colmatar aquilo que eu defendia e que passaria por incluir o futebol na formação escolar", defende o agora responsavel do futebol jovem do Sp. de Braga, um clube que no seu entender não será o que mais fruto vai recolher. "Só os três grandes têm a marca capaz de atrair jovens para tornar as escolas lucrativas", sublinha, pouco tempo depois de ter estado recentemente a dar formação aos técnicos que vão orientar a escola de Braga na África do Sul, a única do clube.
A estratégia que agora está a ganhar força em Portugal já é reconhecida e seguida há muito pelos monstros do futebol internacional. É a melhor forma de fidelizarem adeptos, de se expandirem, não só em Portugal, mas também no mundo", defende o especialista em marketing Daniel Sá. "O Sporting tem actualmente um símbolo para a juventude, entre outros, que é o Cristiano Ronaldo. O FC Porto tem vencido a nivel internacional e o Benfica é uma marca forte. Têm de potencializar estes aspectos lá fora", refere. "Principalmente nos países africanos lusófonos", acrescenta Agostinho Oliveira.
Mas, actualmente, apenas o Sporting e o Sp. de Braga têm escolas fora do país. O Sporting no Canadá (com 200 jovens), e o Sp. de Braga em Joanesburgo. Já o "Dragon Force", marca do FC Porto, dará o primeiro passo na internacionalização com a escola em Cambados, na Galiza. "Vamos apostar na internacionalização, mas primeiro queremos consolidar o projecto portista, sem esconder que um dos objectivos é roubar seguidores aos adversários. "Queremos cativar as crianças que têm pais benfiquistas ou sportinguistas", sublinha.
O sistema funciona de forma semelhante em todos os emblemas. São os clubes que fornecem as metodologias de trabalho e dão todo o apoio e supervisão aos parceiros. E cada clube impõe que os treinadores e coordenadores recebam formação na casa mãe para trabalharem seja nas escolas de Lisboa, Porto, Bragança, Portimão ou Viseu. Instalações condignas são outra das exigências, bem como o equipamento oficial do clube. "Procuramos replicar em todo o país o que se passa na casa-mãe. Garantimos uma uniformização dos métodos de trabalho em todas as escolas. É um projecto que não tem custos, mas que gera receitas", explica Fernando Pinto, o responsavel da Geração Benfica, o nome do projecto "encarnado". "E, embora o objectivo principal seja descobrir talentos para o clube, também é a melhor forma de dar a conheçer a marca Benfica", reconhece.
Em busca do futebol de rua
O interior do país pode ser um dos sectores mais beneficiados. Sem grandes estruturas, esta nova fórmula (iniciada pelo Sporting, em 2006) permite aos clubes acompanharem com uma proximidade sem precendentes a evolução dos candidatos a craques. "Com este projecto o Sporting pode descobrir no Canadá um talento que de outra forma seria impossivel", explica Pedro Dias que coordena a escola de Alvalade em Toronto. "O mesmo se passa no Portugal profundo", refere este antigo atleta "leonino".
O coordenador técnico do "Dragon Force", Carlos Campos, não tem dúvidas de que esta é um lufada de ar fresco no futebol nacional. "Vamos ter mais e melhores jogadores. O campo de recrutamento é brutal e um jovem que se destaque é logo chamado para testes", diz, explicando que o FC Porto vai apostar no interior, uma zona menos explorada. "O futebol de rua está na base de todos os grandes jogadores da história. Esse espaço deixou de existir nas grandes cidades. O reportório foi-se perdendo e nós queremos fazer renascer essa paixão aliada a padrões de trabalho elavadíssimos", remata.
Mas a entrada nestas escolas, referem os responsáveis, não é qualquer garantia de que venham a ser grandes futebolistas. Todos os responsáveis dizem que o mais importante é proporcionar uma prática desportiva de qualidade. Até porque só 0,7% consegue ingressar nos quadros competitivos dos clubes e muito menos chega a profissionais. Daí que todos os clubes exijam aos jovens atletas rendimento desportivo, mas acima de tudo, escolar.
Fonte Fotografias: google.pt