Muda-se o tempo, mudam-se as identidades, as equipas pertencentes à Liga Portuguesa de Futebol são as que menos aproveitam o “material” da formação.
Segundo a Agência Lusa, através de uma investigação do Observatório dos Jogadores Profissionais de Futebol (OJPF), chegou-se à preocupante conclusão que a utilização de jogadores formados nos clubes lusos caiu 1,3 por cento, comparativamente a 2009.
Número este, que não surpreende os que estão atentos à formação no futebol português, pois são cada vez mais os estrangeiros na formação lusitana.
De acordo com este estudo é o Sporting que melhor se posiciona entre as equipas que apostam em jogadores nacionais, fez alinhar durante 32,5 por cento dos minutos dos primeiros jogos da época, jogadores da formação, três vezes mais do que os seus seguidores Beira-Mar (7,9), Marítimo (6,7) e União de Leiria (3,4).
Estas conclusões tornam-se difíceis de aceitar, principalmente porque com o passar do tempo a formação em Portugal tem mais qualidade, efeito de um investimento em infra-estruturas desportivas e a melhoria dos técnicos que lidam com os jovens desportistas.
Considero essencial uma boa aposta na formação, pois estamos a semear o que iremos colher no futuro, sendo os jovens desportistas de hoje os futuros jogadores de amanhã, obviamente dá trabalho, mas se este “esforço” não for feito, não iremos ter uma selecção novamente campeã do Mundo de Sub-20, como aconteceu em 1989 e 1991, na Arábia Saudita e em Portugal, respectivamente.
Foram estes títulos, os expoentes máximos da confirmação de uma boa formação no futebol português que contribuíram para o êxito desportivo na selecção no passado mais recente.
E é esse êxito desportivo que queremos reproduzir no futuro, tanto ao nível das selecções como ao nível dos clubes, não nos podemos esquecer que é o país que está a ser representado e não é com investimentos em estrangeiros que conseguimos potenciar os jovens nacionais.
Devemos fazer tudo para fomentar o orgulho nacional!
Comprar jogadores já “feitos” tornou-se moda nos dias de hoje. É rara a equipa que aposta solidamente em jogadores oriundos da sua formação.
Podendo os jovens da formação seguir dois caminhos; ou o seu talento é muito evidente e são contratados pelos grandes colossos europeus, ou o talento desses jogadores necessita de uma “lapidação”, entenda-se um trabalho mais rigoroso, quer em aspectos tácticos, técnicos, físicos ou psicológicos, não rentabilizando a sua potencialidade. Hoje em dia já não se dá ênfase a este esforço junto dos jovens nacionais, de modo a maximizar os seus atributos para serem jogadores com valor que harmonize com o objectivo da equipa em que estão inseridos.
Infelizmente, é neste segundo caminho que a maioria dos jogadores das camadas jovens se insere.
Torna-se mais fácil ir “comprar fora”, mas não nos podemos esquecer que com isso estamos a hipotecar o nosso futuro futebolístico. O futebol português não pode continuar a viver eternamente de futuros Decos, Pepes, etc, ao invés, devemos criar futuros Figos, Ronaldos, etc.
Tradicionalmente sempre tivemos jogadores virtuosos, ou seja, jovens a emergir em talento, com um grande potencial, onde o acompanhamento pedagógico, psicológico e social deve coadunar com os factores situacionais assim como com a sua personalidade. São estas vertentes que constituem os reais alicerces da formação.
Assim é necessário dar espaço e oportunidades aos nossos jovens desportistas para crescerem tanto como jogadores, como pessoas.
Um bom exemplo disto é o facto de nos Juniores A - Fase Final 2010/11, segundo fonte do site zerozero.pt, a única equipa a ser composta exclusivamente por jogadores lusos é a União de Leiria, dado este, que comprova claramente que esta equipa é uma excepção, contrariamente às restantes que cada vez mais apostam em jogadores estrangeiros nas camadas jovens.
O actual vice-campeão nacional, SL Benfica, joga neste momento, apenas com um português na equipa inicial, falo de Fábio Coentrão, que certamente mercê do futebol demonstrado, não ficará a fazer parte desta estatística durante muito mais tempo.
O SL Benfica já contratou um “substituto” de posição, que só por “acaso” é francês. São nestes pequenos exemplos que vemos a importância dada aos jovens jogadores portugueses.
Esta contratação tem como âmbito uma contínua evolução, explorando o SL Benfica o potencial do jogador, logo podemos colocar a seguinte questão, se é para formar, porque é que não o fazem com jogadores portugueses?!
E quem melhor na actualidade, do que o nosso país vizinho, a Espanha onde verificamos que uma boa aposta na formação dá resultados, o futebol espanhol vive neste momento uma fase de notório sucesso, tanto ao nível dos clubes, como ao nível das selecções.
Há cerca de 10 anos foi implementada uma metodologia verdadeiramente incrível, a formação espanhola potencia ao máximo os jovens espanhóis acompanhando-os muito de perto e volvida uma década o resultado é impressionante!
Em Portugal é visível esta tendência para o “desaproveitamento” da formação, faço um apelo a quem tem responsabilidades acrescidas nesta área, para procurar introduzir uma política desportiva mais aliada à formação portuguesa, para que se continue a formar grandes talentos, tais como Cristiano Ronaldo, Figo, Rui Costa, etc.
Se conseguimos ter dos melhores treinadores do mundo (José Mourinho), dos melhores agentes de futebol do mundo (Jorge Mendes), dos melhores jogadores do mundo (Cristiano Ronaldo), para quando a aposta na melhor formação do mundo…?!
Leandro Monteiro