Desporto - Futebol
Artigo publicado in Jornal A Bola 31 Março 2015
Autor: José Neto
"Emoções – Comportamento – Rendimento – Resultado"
"Entramos numa fase decisiva para o apuramento de competências no sentido
de validar pontos para a conquista de um título, o acesso à Liga dos
Campeões ou demais provas da UEFA ou em caso contrário à sufocante fuga a
possíveis descidas de divisão.
Quem for capaz de conseguir
ultrapassar as exigências da competição de forma emocionalmente mais
equilibrada, revestidos por isso de um lastro, não tanto de capacidades
intelectuais, atléticas ou funcionais, mas identificados de um estado de
alma e confiança nas ações a converter, no prazer em realizar, na
motivação em se envolver e no orgulho a confirmar, poderá estar mais
próximo do êxito, pois sabemos que as expressões sentidas em ato, como
consequência dum estado emocional, tornam-se por vezes altamente
reveladoras na tomada das decisões mais eficazes.
Entre o sentir e
o pensar não existem fronteiras. Por isso o sentimento arrebatado para
se conseguir obter um estatuto de vitória também é gerador de um estado
de crença como força motriz de intencionalidade operante, que por
consequência induz atitude de significado superior para o sucesso e …
como refere Ghandi “quem acredita numa coisa e não faz tudo o que
acredita, veste a pele de covarde”.
Esta corrente de sucesso
conseguido e advindo de melhores desempenhos obtidos, é capaz de
perdurar mais no tempo, derivando para uma consciência mais operativa no
sentido de validar o sucesso, permitindo influenciar o coletivo/equipa
para o estado de performance. Como também sabemos, o comportamento dos
jogadores após os êxitos obtidos são distintamente diferentes após as
frustrações realizadas, vendo deste modo a assunção da bem explícita
qualificação do seu rendimento.
Por outro lado, jogadores
emocionalmente traídos por resultados negativos são originários de
estados de maior dificuldade de concentração, vendo diminuído o seu
estado de alerta onde sempre espreita uma crise de raciocínio,
provocando um estado de negligência e desânimo – muitas vezes
encontra-se aqui a causa devastadora de uma derrota.
Mas, a
capacidade humana para se adaptar e superar adversidades é por vezes
fenomenal. A experiência nos tem dito que somos capazes do melhor quando
as coisas se tornam previamente mais difíceis e também do pior quando
as mesmas se apresentam mais acessíveis. Certas derrotas escandalosas
demonstram que somos os piores terceiro-mundistas e as vitórias quase
impossíveis, fazem-nos crer que somos tão bons como os outros…Do jogo
como da vida, de um momento para o outro nos catalogamos como os mais
pobres dos ricos … como os mais ricos dos pobres…
… e os jogadores
(como refere Patmore) são também maravilhosamente imprevisíveis. Quando
colocados numa “arena ou estádio” e as suas esperanças e medos são
expostos em frente de milhares de espectadores, eles são capazes de
fazer coisa extraordinárias … extraordinariamente bem feitas e logo a
seguir, extraordinariamente mal feitas. Para alguns, o primeiro
obstáculo está na incapacidade para ultrapassar o seu próprio receio
para enfrentar a competição; por vezes até se assiste a uma diferença
abismal em participações excelentes nos treinos, com performances
verdadeiramente chocantes nas competições realizadas… é como se tudo
fosse desaparecido ou esquecido!...
As transformações do estado
de consciência fixa-se por vezes mais nos objetivos de conquista e menos
naqueles que estão no terreno para os conquistar e, como todos também
sabemos, quem se foca mais na consequência e menos na causa, pode ficar a
meio da viagem, vergado pelo efeito devastador das incapacidades para o
conseguir.
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Daí que há uns tempos a esta parte, tenho vindo a
persistir numa permanente luta para uma nova fenomenologia do treino
desportivo. Não tem sido fácil, já que por aí sobram muitos
especialistas que apregoam ideias, algumas delas gastas, sempre
associadas a uma certa futilidade, revisitando-se ao espelho da sua
própria ignorância. No entanto, em abono de realidade, sendo confirmada
em vários êxitos conseguidos, posso atestar que, com a inserção de
competências, em especial no domínio da motivação, stress, ansiedade e
rendimento, coesão de grupo, atenção e concentração, formulação de
objetivos etc…etc… e neste caso específico ao nível das emoções e
comportamento, isto sendo associado, repito, associado às vertentes
tático técnicas, atlético-funcionais no ciclo semanal de treino,
estaremos muito mais próximo dos êxitos a obter.
Neste âmbito e
no correspondente ao tema em análise, posso destacar a título de
exemplo, as técnicas de confronto no sentido de o jogador se auto
comunicar, falando consigo mesmo no decorrer do jogo de forma enérgica e
segura, auscultando o seu estado de consciência operativa,
experimentando a conversão numa avaliação dos seus rankings de sucesso
(passe, receção, remate, desarme … etc…) sendo capaz de controlar as
situações, regulando o seu equilíbrio emocional, em situações criadas,
como exemplo em casos de substituição, a impetuosidade do espectador, a
agressão verbal ou não verbal do adversário, má decisão da equipa de
arbitragem … etc … refreando os impulsos que poderão causar sensações
perturbadores, transferindo para a função de jogo as melhores respostas,
servindo como postura exemplar. Nessa convicção profunda nas jogadas a
realizar, revisitando a experiência fantástica anteriormente exercida,
poderá essa voz interior transformar-se numa âncora de convicções
autenticadas. Associar a estas imagens figuras fundamentais da sua vida
pessoal, teremos um belo significado para a excelência. Reside aqui
quanto a mim o melhor combustível para o desempenho.
Jogadores
emocionalmente controlados conseguem comprometer-se com boa conduta
proactiva, revestidos de atitudes que lhes conferem um padrão de
conversão, no maior poder de iniciativa que se revisita e amplia pelo
todo que é a equipa.
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Defendo por isso que sempre o treino deve
contemplar situações que possam e devam provocar emoções extremas (até
com alguma dose de dramatismo), como os golos no último minuto; equipa
reduzida a 10, 9, 8 ou até 7 jogadores; impedimentos momentâneos de alta
gravidade; questões de ordem meteorológica … etc … tudo situações
análogas à competição, vendo-se assim diminuídos os efeitos surpresa
que, a acontecer, provocam emoções negativas causadoras de padrões
rítmicos altamente perturbadores e geradores de convulsões por vezes
inultrapassáveis. Se não posso controlar o relvado, as condições do
tempo, o erro cometido, os adversários, a equipa de arbitragem, porque
permitir que se perca a concentração neste tipo de diálogo interior em
vez de enfatizar tudo aquilo que posso e devo controlar, dando como como
exemplo: a luta perante o adversário, o espaço e o tempo na
antecipação, a qualificação do remate, etc… etc… Ao concentrar-se em
ações que não controla, o futebolista sobrecarrega o cérebro que gere o
seu desempenho. Pelo contrário, quando se é capaz de gerir os
pensamentos de forma positiva, ajuda de forma substancial a
concentrar-se no que pretende atingir e a esquecer o que deve evitar.
Outro
aspeto a ter em conta é a prática de exercícios para a reconstrução de
imagens mentais, porventura capazes de provocar um plano aberto de
consciência para o êxito, associando técnicas de relaxamento, imaginação
e visualização mental e respiração (reafirmo de forma insistente para a
inserção destas e de outras vertentes referentes ao plano mental, na
dinâmica processual do treino em campo).
Neste âmbito, (e de uma
forma muito sintética… pois daria outro tema a refletir), a regulação
do mecanismo respiratório poderá assumir-se como um excelente
instrumento acessório, permitindo dosear mais energia muscular, sendo ao
mesmo tempo um elemento regulador dos mecanismos sensoriais da atenção e
concentração, induzindo um melhor estado de confiança, vendo-se
convertida a energia que emerge como fonte propulsora do resultado em
sucesso."
José Neto