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terça-feira, 5 de março de 2013

Artigo de Reflexão: "O treinador, o espetáculo e a sobrecarga de jogos"

Futebol - Opinião

Tema: "
O treinador, o espetáculo e a sobrecarga de jogos"

Artigo publicado in Jornal Público 26 Fevereiro 2013

Autor: José Carlos Pereira


O treinador, o espetáculo e a sobrecarga de jogos

Trabalhar em equipas de topo significa ter muitos jogos (competições nacionais e internacionais), em especial em alguns meses. Estamos porventura na fase mais importante da temporada desportiva e por toda a Europa as competições entram na fase terminal. Os jogos sucedem-se e, numa equipa ainda em todas as frentes, isso obriga a uma grande sobrecarga de jogos. O futebol é um espetáculo apaixonante a uma escala global e os intervenientes têm de estar em condições de dar o seu melhor continuamente.

Para as equipas de topo europeias, os meses de Fevereiro e Março estão repletos de compromissos competitivos (há equipas a fazer entre oito e 11 jogos oficiais num período de 35 dias), e isso implica viagens, estágios e períodos longe das famílias, com algumas das semanas sem qualquer folga para os jogadores.



Como afirmou Jorge Jesus, o treinador do Benfica, a este propósito, “quem quer competir em alto nível tem de estar sujeito a este calendário”. Mas além do desgaste físico, que isto acarreta para os jogadores, atente-se que o esforço mental e a carga emocional de disputar estes jogos a um nível máximo de exigência e de concentração pode deitar tudo a perder se não houver uma planificação e uma abordagem metodológica do processo de treino adequadas.


Dir-me-ão que para este tipo de jogos com uma carga decisiva, os jogadores terão ainda mais motivação. Obviamente que sim, e sobre isso José Mourinho referiu: “Nós gostamos deste tipo de jogos. Todos querem jogar. Prefiro jogos desta dimensão e dificuldades do que jogos sem pressão. Estamos preparados para jogar. Queremos que chegue rápido o jogo com o Barcelona e com o Manchester United.”

Preparar uma equipa de futebol já é por si uma tarefa muito complexa. No entanto, fazê-lo nestas circunstâncias exige ao treinador atenção, sensibilidade e cuidados reforçados. Antes de mais, jogar a cada três ou quatro dias, de forma sucessiva, implica um maior número de treinos de recuperação e menos treinos de aquisição, em especial para os jogadores mais utilizados, o que obriga que qualquer intervenção/correção por parte do treinador, do ponto de vista técnico-tático e no que toca à forma de “jogar”, tenha de ser iminente e praticamente teórica e um pouco descontextualizada dum treino específico. Depois, correm-se riscos de lesões e entrada em declínio de forma devido ao “sobretreino” ou sobrecarga de competição.



Também por esta razão, os plantéis destas equipas devem ser equilibrados em quantidade e qualidade. Gerir a competição e os treinos, com um plantel homogéneo, permite uma gestão dos jogos com alguma rotatividade, utilizando os jogadores mais adequados a cada tipo de adversário e, consequentemente, com o mesmo rendimento. Isto também possibilita ao treinador uma gestão dos jogos tendo em conta as incidências do mesmo e, simultaneamente, tendo uma especial atenção o esforço e eventual cansaço de alguns jogadores, porque cada jogador é único.

O hábito tem um papel fulcral nesta temática. A preparação de uma equipa e de um jogador assenta muito no hábito e o que se procura é a forma desportiva. Treinar com intensidade, de forma contextualizada com a ideia de jogo do treinador, com os esforços exigidos por essa forma de jogar e com a devida atenção à dinâmica dos estímulos (tendo em conta o princípio da alternância horizontal, que basicamente é a aplicação adequada dos estímulos fisiológicos de treino no microciclo semanal), prepara melhor os jogadores para as exigências competitivas.

Além disso, quando os jogadores já possuem o hábito de competir com elevada exigência e de forma constante, a sua capacidade de resposta a estes ciclos é mais positiva. Por isso, Messi referia há dias que “o corpo reage melhor se não descansar”. De fato, a recuperação fisiológica e mental é deveras importante, pois sem frescura os jogadores não rendem, mas quando já existe o hábito de competir a cada três dias, os jogadores, na sua quase generalidade, reagem com naturalidade a estes ciclos. Disfrutemos então dos jogos apaixonantes que se avizinham e que seguramente vão elevar ao máximo a adrenalina dos jogadores, treinadores e em particular dos espetadores. The show must go on!

* Artigo publicado respeitando a norma ortográfica escolhida pelo autor

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