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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Artigo de Reflexão: "Houve emoção mas a Liga portuguesa é cada vez mais uma corrida a dois"

Desporto - Futebol

Tema: "Houve emoção mas a Liga portuguesa é cada vez mais uma corrida a dois"

Artigo publicado in Jornal Público 22 Maio 2013

Autor: Tiago Pimentel

FC Porto ou Benfica venceram 27 das últimas 30 edições do campeonato português. Crise pode aproximar clubes na tabela, mas fenómenos como o do Paços de Ferreira são difíceis de repetir, dizem técnicos

O campeonato que terminou no fim-de-semana de 19 de Maio de 2013, com o título a acabar nas mãos do FC Porto, teve emoção até ao fim, mas, simultaneamente, confirmou a falta de competitividade na Liga portuguesa. Se, por um lado, é certo que o vencedor da prova só foi conhecido na última jornada, por outro, a luta pelo título ficou desde cedo reduzida a FC Porto e Benfica. À 10.ª jornada o duo seguia empatado na frente, já com nove pontos de vantagem para os perseguidores. Dez jornadas depois, "dragões" e "encarnados" continuavam de braço dado na liderança, mas essa diferença tinha aumentado para 17 pontos. No final, a margem pontual entre o terceiro classificado, Paços de Ferreira, e o segundo, Benfica, foi de 23 pontos (24 para o FC Porto).


O Paços de Ferreira foi a grande revelação do campeonato, com um inédito terceiro lugar

Portugal até foi uma excepção no panorama europeu, já que os dois primeiros acabaram separados por um ponto. Na Alemanha, o Bayern garantiu o título a seis jornadas do fim, e terminou com uns impensáveis 25 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, o Borussia Dortmund - com o qual disputou, no último sábado, a final da Liga dos Campeões. O Barcelona disparou muito cedo na classificação da Liga espanhola e já celebrou a conquista do campeonato: a duas jornadas do fim, soma mais 13 pontos que o Real Madrid. O título da Premier League regressou às mãos do Manchester United, campeão com 11 pontos a mais do que o rival City (que, na época passada, conquistou o título no último segundo). A Juventus é campeã de Itália, nove pontos à frente do Nápoles. Em França, o PSG regressou aos títulos ainda antes do final da Ligue 1 e tem dez pontos de vantagem sobre o Marselha.

Em comparação, a Liga portuguesa teve emoção até ao último instante. Mas essa impressão esmorece se pensarmos que, nas últimas 30 edições, FC Porto e Benfica saíram vencedores em 27. "É uma corrida a dois. Neste momento qualquer um apostará que Benfica ou FC Porto será campeão para o ano. Infelizmente para o futebol português", admitiu o ex-seleccionador nacional António Oliveira. "Acredito que o Sp. Braga faça melhor para o ano e que o Sporting faça muito melhor. Competitividade é sabermos que qualquer das equipas da frente pode, pela qualidade do seu jogo, plantel e massa associativa, vencer o campeonato. E têm de ser três, quatro, cinco equipas", acrescentou.

O treinador João Carlos Pereira corrobora esta opinião: "Há uma diferença no potencial financeiro e organizacional de FC Porto e Benfica em relação aos demais, embora o Sp. Braga se tenha intrometido em épocas recentes", apontou. Mas salienta que falar em falta de competitividade "é uma questão de perspectiva": "Se falarmos na luta pela Liga Europa, penso que este ano foi excepcional, porque até à última jornada havia vagas em aberto. E também no que toca à descida de divisão. Trouxe emoção e imprevisibilidade ao campeonato".

Desempenhos excepcionais como os alcançados por Paços de Ferreira (que obteve a melhor classificação de sempre ao ser terceiro, garantindo um lugar no play-off da Liga dos Campeões) ou Estoril (quinto classificado e apurado para a Liga Europa na época de regresso à I Liga) são bons sinais e, ao mesmo tempo, reflexo dos tempos. "Estamos numa fase crítica e de crise. O paradigma pode alterar-se: a crise pode aproximar um pouco mais os clubes. Resta saber se são os de cima que baixam ou os de baixo que sobem", refere António Oliveira.

O ex-seleccionador admite ser difícil para estes emblemas repetirem os bons desempenhos: "É importante que tenham feito estes campeonatos. Demonstram que podem fazer-se equipas melhores com menos dinheiro. Revelaram-se duas grandes equipas, mas não são grandes clubes. Não vou dizer que tenha sido pontual, mas duvido que o Paços possa voltar a fazer um terceiro lugar e entrar na Champions. Há uma diferença enorme entre grandes equipas e grandes clubes".

"Já vimos equipas que foram à Europa e no mesmo ano desceram de divisão", lembrou João Carlos Pereira, que aponta a falta de uma cultura de planeamento desportivo: "É uma questão cultural. Mais do que sermos um paradigma de organização, somos um paradigma da gestão do momento", concluiu.