Desporto - Futebol
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Artigo publicado in Jornal A Bola online 23 Julho 2015
Autor: José Neto
"Pré época
Planeamento e Periodização do Treino e sua importância para o futuro de uma equipa na construção do sucesso!…"
"A definição genérica de treino, como uma forma básica de preparação do
atleta através de exercícios no sentido de proporcionar ao organismo
respostas às exigências físicas, técnicas, psicológicas, afetivas e
sociais suficientemente capazes para a obtenção do êxito, ainda vigora
em qualquer manual que o tempo conserva.
Constata-se no entanto
que no âmbito da planificação duma época desportiva tem-se assistido a
uma graduada evolução, quer ao nível das conceções, quer ao nível das
operacionalizações das temáticas referentes às cargas de treino, não
apenas em relação ao volume, como à intensidade, como à especificidade,
recuperação, densidade etc…estabelecendo-se metodologias instrumentais
para que o sucesso apareça e se prolongue no decorrer duma época
desportiva.
Deste modo, qualquer trabalho que se destine à
programação e planeamento tem que obedecer à avaliação das condições
infraestruturais da prática e sua operacionalidade: Meio – material,
potencial humano, capacidade socio- económica; Equipas técnica e médica,
sua constituição e organigrama de funções a exercer; Atletas – dados
pessoais, historial técnico, competitivo, desportivo e clínico;
Calendário – treinos, jogos, competições; Seleção e Meios e Métodos de
Treino – quais / quando / quanto / onde /como.; Definição do Modelo de
Jogo – conceção de jogo; Condições de apoio departamental e logística,
etc, tarefas sobre as quais jamais poderá ficar indiferente a qualidade
crítica e reflexiva de todo um departamento que opera as premissas dos
êxitos a conseguir, numa conduta de deveres para um julgamento de
obrigações.
Em tempos que a memória não me atraiçoa havia um
código referencial em que se periodizava uma época desportiva em 3
fases, geralmente agrupadas em 3 grandes períodos ou etapas:
1-
Período preparatório, pré competitivo ou aquisição da forma desportiva –
correspondente ao tempo espaçado entre o início da época e o início
oficial das competições.
2- Período competitivo ou fase de desenvolvimento da forma desportiva- correspondente à durabilidade das competições.
3-
Período de transição ou fase de redução ou quebra temporária dos níveis
de rendimento.- correspondente ao tempo que intervala o final das
competições e o início da nova época.
Dada a intervenção de um
modelo “importado” (Matveiev), em que se privilegiava um conceito de
forma desportiva baseado nos “picos” de forma, muito utilizado nos
desportos individuais, as cargas de treino tinham uma orientação
estruturada, isto é , o que interessava era que a equipa aparecesse em
determinados momentos em “alta rodagem” para seguidamente baixar de
forma cíclica o seu rendimento. À medida do tempo constituiu-se a
necessidade de substituir esse modelo, pois no Futebol., mais importante
do que os “picos” de forma, interessava os patamares de rendimento, ou
seja a estabilização do rendimento como máxima garantia para resultados
de nível superior. Assim e de forma progressiva viu-se a conceção
tradicional evoluir para novas fenomenologias, como seja o treino
integrado, ou seja numa interligação de treino por contraste, depois
para a periodização tática, depois periodização complementar.
Percorri enquanto técnico de observação e qualificação do jogo e
metodólogo de treino, desde 1981/82 até finais da década de 90
(V.S.C.Guimarães, F.C.Porto, S.C.Braga e V.S.C. de Guimarães) todas as
etapas correspondentes e com resultados (alguns deles que a história de
sucesso jamais apagará). Contudo e a experiência me tem demonstrado, não
há receitas onde se possa pesquisar as condições que resultem no êxito
absoluto. Por isso, repugna-me o fenómeno de certos profetas que
anunciam como verdade absoluta um dos conceitos, quando no Futebol, como
na vida, algo de novo se anuncia após uma resposta adequada, pois “o
conhecimento nasce da dúvida e alimenta-se na incerteza”.( Sérgio, M.)
Se por vezes até vemos jogadores com participações excelentes no treino e
no imediato com performances verdadeiramente chocantes nas competições
que se lhe seguem, até parece que tudo foi desaprendido ou esquecido, … o
que se pode dizer?!...
É que nada está absolutamente definido. O
planeamento e programação do treino vê-se por isso enriquecido com esta
questão da adaptação significativa de condições propícias para a
obtenção do êxito.
São várias as ciências que “emprestam” ao
Futebol um contributo extraordinário das suas valências, como a
fisiologia, a metodologia de treino, a estatística, a medicina
desportiva, a biomecânica, a psicologia, a nutrição., etc., que,
associadas a uma programação cuidada em treino, conduzirão ao sucesso na
competição.
Por isso, jamais devemos esquecer que quão
importante é trabalhar (quer na pré época como no decorrer da mesma) no
treino a força, a agilidade, a destreza, a velocidade, os princípios
defensivos e ofensivos, as transições e bolas paradas, etc, inseridos de
metodologias que por exemplo promovam a confiança no jogador,
assegurando e encorajando-o relativamente à capacidade de ser bem
sucedido; inserir no conceito de treino o aspeto motivacional,
formulando-lhe objetivos difíceis e desafiadores de complexidade
crescente; operacionalizar no conceito de treino técnicas de redução de
stress com intenção clara de obtenção níveis ótimos de desempenho,
utilizando técnicas de relaxamento apropriadas e em momentos claros de
definição personalizada de funções (marcação de livres, grandes
penalidades, etc); inserir no conceito de treino um elemento
fundamental, que poderá resultar na simulação de condições adversas que
os jogadores irão ter no jogo, instrumentalizando-as no sentido de tudo
estar preparado para se ser bem sucedido, etc …
Numa pré época,
ao colocar todas estas dominantes (e muitas outras) em formas de jogo,
está a potenciar-se argumentos fundamentais onde os tão famosos
automatismos consubstanciados em rotinas, acabam por oferecer a
expressão duma equipa como um todo, que pensa, executa e vive de forma
coesa e solidária!..."
José Neto é Metodólogo Treino desportivo, Mestre
em Psicologia Desportiva, Doutor em Ciências do Desporto/Futebol,
Formador Treinadores FPF – UEFA e Docente Universitário.